O Rio de Janeiro e seus arredores em 1824

Depois de andarmos uma hora, a estrada vira onde estão dois obeliscos e segue pela crista do morro, erguendo-se ora à esquerda ora à direita, algum rochedo nu e escarpado. Aqui, muda de súbito o panorama, porque o vale fronteiro abre-se à vista, selvagem no começo e coberto de árvores centenárias, que se entrelaçam, para, gradualmente, tornar-se mais risonho, deixando aparecer Mata-Porcos, São Cristóvão, parte da cidade, até que esta surje em sua totalidade ao olhar encantado, com a Ilha das Cobras, o porto repleto de navios embandeirados, a baía e, ao fundo, a cúpula da Mandioca e a Serra dos Órgãos, onde se perdem nesse instante os últimos raios do sol.

Do morro de Santa Teresa, continua o aqueduto até a cidade por cima de arcos de pedra e cal. Bem conservados no todo e restaurados de cima abaixo — a última vez — em 1814, pelo então Príncipe Regente, estão sendo agora consertados em muitos pontos.

Tenho hesitado até agora em dar-te uma descrição da população e de sua maneira de viver, justamente por ser este o ângulo mais sombrio do Rio. Mas, já agora não posso mais postergá-la e procurarei ao menos que seja um relato fiel daquilo que eu vi. O Rio de Janeiro conta ao redor de 180 a 200 mil habitantes, dos quais dois terços são negros; mulatos veem-se comparativamente poucos. Os brancos são na maioria portugueses. Há um número igual de brasileiros natos e, finalmente, uns poucos milhares de estrangeiros: ingleses, alemães e

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