Não deduzia apenas, mas antevia com supraexatidão a consequência fatal dos fatos que presenciava esta passagem da Narrativa: "talvez pouco tempo decorra até que estes sentimentos adquiram força universal capaz de desmanchar os laços que prendem os colonos brasileiros a Portugal, provocando uma mudança política nesta vasta extensão do hemisfério ocidental".
Tão acertado adivinhar das gloriosas jornadas da guerra da Independência, da campanha baiana que culminaria a 2 de julho de 1823, depois de mais de um ano de lutas, combates e sacrifícios Lindley inferia do que estava vendo e observando.
"As novas gerações da sociedade, têm embebidas tais noções [de independência] com tanta convicção que não duvido da possibilidade de uma transformação política radical. Já ridicularizam sua sujeição e parecem conscientes de possuir o mais desejável país do mundo, suficiente por si de suprir as necessidades do homem".
Inspiradoras da inconfidência baiana de 1798, tão pouco apreciada em seu justo valor pelos nossos historiadores e, sob muitos aspectos — até pelo número de mártires (quatro enforcados e esquartejados) — mais importante que a mineira — aquelas ideias foram os móveis psicológicos da luta emancipadora, da guerra da independência.
Adiada pela presença e ação de D. João VI no Brasil, demoraria vinte anos a deflagrar os explosivos, que Lindley viu já estavam sendo acumulados, podendo assim observar uma etapa da evolução do fenômeno político-militar-social, marcado na Bahia de início por uma revolução fracassada (1798) e em seu epílogo por uma guerra vitoriosa (1823).
Pedro Calmon em feliz e recente pesquisa nos arquivos portugueses trouxe do Velho Mundo dois documentos relativos a Lindley.
Um é carta pelo autor da Narrativa escrita aos negociantes de Londres — Sysmore e Croskey — e datada da Bahia — "São Salvador, 7 de outubro de 1802".
A cópia trazida por Pedro Calmon deve ser tradução do original, ou segunda via apreendida a Lindley, pois não é razoável