diferenciação que diga-se de passagem — com maior frequência depende muito mais de fatores sociológicos que dos propriamente endócrinos ou — para dizer mais latamente — biológicos.
O que a Rua do Ouvidor operava era o fenômeno de contato de cultura, entre França e Brasil. Seria interessante a pesquisa do sentido em que se realizou essa troca de influências, e que nem sempre se mostrou coerente ou uniforme. A invasão de franceses na Rua do Ouvidor — Macedo sabiamente prefere dizer de francesas — levou a mudanças de estilos de comportamento da população carioca, fluminense como se preferiria dizer. Mas nem sempre foi a França que modelava mercê dessas interações, psicologia ou sensibilidade nossa. Às vezes o processo aculturativo assumia direção contrária como veremos.
É das teorias mais caras de Gilberto Freyre a da integração fácil do português na sociedade primitiva em que iria desenvolver o seu processo de colonização. Os primeiros franceses arribados à terra nova descoberta, talvez estivessem dotados dessa mesma capacidade de dissolução — na terra e na gente que o sociólogo assinalara em relação ao conquistador luso. Dotados da mesma plasticidade. Dá ideia plena dessa incorporação do francês na civilização nova uma referência de Anchieta por onde se vê que o seu mimetismo levava-o inclusive ao abandono dos seus padrões mais tradicionais de conduta e vida. Só faltou a antropofagia para o francês homogeneizar o seu espírito e a sua vida com a das tabas que defrontava, encantadamente e em cuja intimidade se imiscuía.
Com efeito diz o Taumaturgo: "A vida dos franceses que estão neste Rio é já não somente hoje apartada da Igreja Católica, mas também feita selvagem: vivem conforme os índios, comendo, bebendo bailando e cantando