Memórias da Rua do Ouvidor

a Rua principal, a Rua por excelência — com todo o seu significado de retrato, confluência e símbolo.

De certo modo, na Rua do Ouvidor, a cidade arriba para dela sair, ali é que a cidade vai padecer o seu banho lustral de civilização. Ali a cidade ia debruçar-se sobre a Europa. A cidade que cada vez mais iria europeizar-se.

A europeização começa com a independência. Dir-se-ia melhor com Dom João VI; dá seus sinais com a medida violentamente policial do Intendente Paula Viana, obrigando a população a retirar de suas fachadas as rótulas que as "afeavam" e que a autoridade considerava, evidentemente, bárbaras, "góticas", "turcas". Gilberto Freyre quer explicar a providência como sugerida pelo comércio inglês interessado na venda das vidraças... Mas deixa-nos hesitar quanto à validade dessa tese, uma passagem de José Mariano Filho, quando em livro seu, em que versa o assunto, fala sem maiores intuitos, em "vidraças francesas". Voltaremos ao assunto em nota aposta ao texto. De qualquer maneira não deixa de ser simbólico o fato de na hora da expatriação das rótulas e da abertura das casas com as suas mulheres para a rua e a vida, a França muito mais do que a Inglaterra estivesse presente sob a forma de vidraça.

Mas estamos com Macedo: o que interessa é a francesa. Uma delas — que nos dá a entender ser honesta — frisa: "Comme les brésiliennes ne sortaient jamais seules dans les rues, à cette époque, on se rencontrait dans la ville, que de françaises ou des anglaises, que par ce seul fait de sortir seules, se voyaient exposées à beaucoup d'aventures; c'est une Madame; disaient en souriant les brésiliens, ce qui signifiait une française et nous sous-entendait une petite dame; car l'exportation de nos petites dames à l'étranger n'est pas une des parties les moins importantes de notre commerce." (Mme. Toussaint Samson

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