Memórias da Rua do Ouvidor

Une Parisienne au Brésil — 2ª ed., Paul Ollendorf, 1883).

Vem a pelo uma referência do mito da prostituta em nossa terra. A A Dama das Camélias já se havia encarregado de reabilitá-la. Função análoga teve entre nós José de Alencar com sua Lucíola, que como realização, no conceito de Antonio Candido, superaria o drama de Dumas Filho. E numerosos outros poetas.

A prostituta é o polo oposto da mulher reclusa no gineceu patriarcal. Possuía ação ambivalente ou seja exercia a um tempo força de atração e de repulsão, abismo do qual se sonhava fugir e meta à qual se pretendia alcançar. Dessa duplicidade de influências contraditórias derivara uma resultante cujo sentido de qualquer maneira seria a desalgemação, o caminho para a alforria. Atenuam-se as diferenças entre mulher e homem. Principalmente do ponto de vista dos direitos ao amor e à vida, que são afinal de contas todo o Direito. Procura-se anular o padrão de dupla moralidade imposta pelo homem e tirano. Vem da francesa o estímulo para a mulher sair para a rua. O primeiro incentivo para o trabalho e a consequente independência ou pelo menos atenuação de dependência — na mulher feita bordadeira, modista, pianista, professora.

O relativo malogro que coroou em nossos dias a representação de A Dama das Camélias deve-se, a par de numerosos outros motivos, à falta de repercussão que o seu motivo nodular vem encontrar em nossos dias. Completamente superado o tema da reabilitação da mulher perdida.

Do ponto de vista da ação da francesa no policiamento dos nossos hábitos, é importante o romance de Hilário Tácito, Mme. Pommery. Hilário Tácito é pseudônimo que oculta um Toledo Malta ilustre, e que, não obstante o relativo esquecimento do seu trabalho — obra

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