mista de romance, ensaio e crônica — é um dos melhores escritores que jamais possuiu essa terra de São Paulo. A francesa ensinou a envergar a casaca. Ensinou a tomar champanhe. Foi elemento precioso à nossa "desbotocudização", para usar do termo impressivo de Toledo Malta. Ensinou a conversar, coisa impossível a certa hora com as brasileiras mais ou menos analfabetas, que sabendo embora francês ignoravam a arte da palestra. Com a francesa a mulher brasileira aprendeu a ter gosto. A se maquilar. A se vestir. A comer com guardanapo, garfo e faca.
A francesa associava muitas vezes as condições de atriz às de meretriz. Vem de longe, e tradicionalmente fundada, a repulsa das nossas famílias à atividade teatral, tida na conta de desmoralizante. No Rio, o Alcazar, amaldiçoado por Macedo, foi simbólico deste sentido que o teatro, impregnado de vaudeville e sensualidade, ia assumindo a certa hora entre nós. E no teatro, as atrizes enlouquecedoras. A mais representativa delas, Aimé. Aimé no nome, mas também literalmente amada por toda a população masculina febricitante. A ponto de haver marido que despojasse a esposa de suas joias para depô-las aos pés da cortesã. A ponto de as mulheres das famílias mais ilustres de Botafogo soltarem fogos, de puro regozijo, quando a francesa enriquecida e decadente voltava para o seu país. A ponto de num leilão de seus bens, à hora da partida, certo utensílio de uso mais intimamente fisiológico haver alcançado o lance de cem mil réis...
O processo da libertação da mulher brasileira é concomitante ao da urbanização. Nos apartados recessos rurais, a mulher continuará por mais tempo reclusa em haréns de ferro. Com a cidade vem a prostituição, e vem o telégrafo, a iluminação a gás, o telefone, e principalmente a novidade dos meios de locomoção: o barco a