a referir, o da imponderável leveza, por vezes capaz de resvalar para a leviandade. É enorme o esforço que Macedo faz no sentido de evitar que por qualquer momento a narrativa resvale para o maçante e o duro. Quando o relato mais aparenta entrar pelo terreno da árida narrativa histórica, Macedo foge por um desvão de fantasia, no afã de fazer que a exposição não abandone jamais a costumeira atmosfera hedonística habitual. Esforço de dourar a pílula do real, de nimbar de halo de poesia a verdade e que — diga-se de passagem — nem sempre é razoavelmente bem sucedido. Há nele de qualquer maneira um contador de histórias vigilante que não quer que o entrecho se petrifique em didatismo e sono.
Em rigor como definir o folhetim? Defina-o por nós Castro Alves. Para o poeta, é matéria do folhetinista: "esta vida ativa, este roçar de vestidos de seda, estes risos que se cruzam, estas mulheres que se encontram, estes amigos que inspiram a vida, o movimento, a cidade com o seu bulício, o camarim com o seu almíscar, — muito dos tetos, pouco do céu, muito de flores, pouco de florestas, os tapetes em vez de relvas..."
Machado de Assis nos auxiliará ainda mais na definição: "O folhetinista é a fusão admirável do útil e do fútil, o parto curioso e singular do sério consorciado com o frívolo... O folhetinista na sociedade ocupa o lugar do colibri na esfera vegetal — salta, esvoaça, brinca, tremula... tem a sociedade diante de sua pena, o público rara lê-lo, os ociosos para admirá-lo, e os bas-bleus para aplaudi-lo..."
Castro Alves e Machado de Assis podem pois ser colocados neste limiar de livro dando-nos a mão, Virgílio no inferno ou Beatriz no céu, oferecendo-nos antecipadamente uma definição do folhetim que quadra excelentemente a essas Memórias.