As conceituações citadas logo nos apontam o folhetim como gênero essencialmente urbano. Fá-lo-iam com acerto os romancistas da cidade: além de Macedo. Alencar e o próprio Machado. De tal modo não pode ser de outra maneira que num dos livros do nosso cronista o passeio é pela cidade do Rio de Janeiro e em outro é pela Rua do Ouvidor. Essas Memórias correspondem, pois, ao folhetim típico. No sentido que Castro Alves apontou precisamente: com ausência de paisagem, no sentido tradicionalmente romântico, com céu, floresta e mares. Substituída a paisagem natural pela artificial, de tapetes e tetos e mais ainda de lojas, luzes, calçamento, bares, bondes, e finalmente figuras humanas não mais idealizadas, mas recortadas ao vivo — artistas, modistas, mulheres de família, escravas, prostitutas... transitam por seu livro não como ectoplasmas sofridos mas em sangue, hálito e nervo.
Na obra de Macedo essas Memórias vimos que podem corresponder a uma transição para a atitude realista. É que a natureza, o "nosso céu tem mais estrelas", aparta e isola, leva à ruminação interior, ao contato místico, panteísta ou tingido de outra nuance, com Deus, traz as larvas da esperança e as da angústia, instala a atitude meditativa, leva aos meandros da perquirição metafísica. A natureza é a introversão. A hipertrofia do individualismo, o exacerbamento da sensibilidade e da imaginação, nascem dela por conjunção de toda uma série de fatores. Já a cidade é o esbarro com o cotidiano, "esta vida ativa", da expressão de Castro Alves. O cotidiano que, pelo menos no caso do Brasil, não havia sido ainda descoberto como fonte de poesia. Como fonte de poesia romântica, é óbvio. O cotidiano digamos o urbano — aparecia como o antipoético, e como poesia se confundia com Romantismo, urbano poderia tornar-se sinônimo de antirromântico, portanto de Realista. Foi a cidade em