Viagens aos planaltos do Brasil - Tomo III: O rio São Francisco

Nossos homens preferiram a margem a sotavento contra a qual se quebrava a ventania, deixando a água embaixo comparativamente morta e evitando, assim, o perigo da queda das árvores. Estando agora a superfície do canal central bloqueada pelo forte vento, a corrente lateral, água turva durante nossa subida, trouxe-nos rapidamente de volta. Estava escuro às 7h30min da noite quando galgamos a escorregadia margem de Manga. Em breve, o trovão rugiu violentamente sobre nós e a chuva caiu pesadamente, felizmente sobre um telhado firme. Este foi o primeiro dia de clima chuvoso que encontramos desde 21 de julho, e com ele começou uma estação desolada como um aniversário na Inglaterra.

Em Manga vimos pela primeira vez a Barca,(19) Nota do Autor que fez lembrar a meu companheiro a yawl do Mississipi. Foi introduzido somente nos últimos quarenta anos. Até esse tempo todo o serviço era feito por ajojos e canoas. A forma é provavelmente inspirada pelas do Douro, mas aqui a forma é mais no estilo holandês, redondos em forma de colher para adaptar-se à corrente. Falta igualmente a imensa ponta final dos barcos portugueses, posto que sempre dotadas de um grande e poderoso leme. As tábuas são das melhores madeiras do país, cedro e vinhático, a quilha é de aroeira e as cavernas ou costelas, tal como as peças transversais e a escada do costado, são de forte e rija rosca. O comprimento médio pode ser de 45 pés, por 14 de largura, calando três a quatro pés quando carregadas, carregando umas 400 arrobas, geralmente rapaduras ou bolo de açúcar, cada uma de quatro libras. Em Salgado foi construída a Nossa Senhora da Conceição da Praia, hoje destruída. Tinha 81 pés de comprimento e seis pés na água. Essas construções são sempre de fundo chato para enfrentar os bancos de areia. As quilhas são perigosas porque provocam choques, quando a corrente de água arrasta-as para os bancos de areia. Os mastros e a ré são elevados, como nas velhas caravelas, e a carga é empilhada ao longo da barca ou coberta de peles no centro, deixando uma passagem sobre pranchas de cada lado. Acima de Paulo Afonso o toldo é insensatamente colocado na ré de modo que é sujeito a cada sopro ou ventania. Os ribeirinhos, mais abaixo, preferem as cabines a proas e reduzem suas dimensões. São feitas em forma de túnel, semelhantes ao surf-boats da costa da Guiné e devem ser dignas de imitação pelos habitantes da corrente superior. A cabine de popa, que de oito pés, alcança, às vezes, a quarta parte do comprimento, é de sólido soalho, mas é rudemente arqueada e forrada de fronde de indaiá ou da palmeira carnaúba ou mesmo de capim comum. Um negociante rico adota um nome sonoro, como "Baronesa de Minas", desfralda uma bandeira com uma "Santa Maria", e emprega

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