fictícias e irreais, porque as emoções são enunciadas em música. Mas os negros da África central demonstram pelas canções suas tristezas mais profundas e os Botocudo da América do Sul evidenciam a excitação por meio do canto em vez do falar. "Ils ne parlent plus; ils chantent", diz o viajante.
Naturalmente a matéria das canções são na maior parte amorosas. O barqueiro delicia-se em gritar "a largas goelas"(26) Nota do Tradutor no máximo de sua voz, alguns versos como:
"Ontem vi uma dama
Por meu respeito chorar".
Louva-se continuamente a cor-de-canela, ou
Mulher que engana tropeiro
Merece couro dobrado
Coitadinho tropeiro, coitado! (coro)
Ele induz Mariquinha a pôr a chaleira no fogo:
"Bota o frango na panela
Quando vejo cousa boa
Não posso deixar perder
O piloto (coro)"
Algumas dessas canções ainda me soam aos ouvidos, especialmente uma que se parecia com o "Sam'All". Quanto mais cantavam e mais alto, melhor para a viagem. Parece que isso os estimula como a sineta faz aos burros.
As superstições do barqueiro são tão numerosas como seus cantos. Ela acredita firmemente no duende do Guaiajara, bruxo e feiticeiro,(27) Nota do Autor no lobisomem, o Loup-garou de Portugal, no Angai ou Anhangá,(28) Nota do Autor na alma ou fantasma, no esqueleto, na aparição do galo-preto, que é um mau padre transformado em punição, e no Capetinha ou espírito maligno. Têm contos curiosos sobre o cavalo da água e outros animais fantásticos. Este animal é do tamanho de um potro, de cascos redondos, cabelos vermelhos, e gosta de pastar nas margens. O "Menino" afirmou-me que ele o viu num poção abaixo da cachoeira das Gerais, no rio das Velhas, e que um moço atirou sobre ele. Talvez seja o peixe-boi, bem conhecido nas águas amazônicas. Mas não é seguro de que tal animal (Manatus Amazonicus) tenha sido encontrado por aqui. A Cachorrinha-d'água tem a pele branca e uma estrela de ouro na testa. Quem a vir terá todos