Viagens aos planaltos do Brasil - Tomo III: O rio São Francisco

o bálsamo do Peru, a copaíba e a asafoetida, são produzidas em abundância. O mesmo se pode dizer da cera de abelhas e a de carnaúba, que é transformada em velas no Rio de Janeiro; as tinturas são abundantes, desde o anil ao pau-amarelo, e as madeiras de marcenaria constituem uma longa lista, encabeçada pelo jacarandá e o cedro do Brasil. Em presença de riquezas tão vastas e inexploradas, e em expectativa das classes indigentes da Europa, podemos exclamar como Goethe: "Quem é que diz que nada resta ao pobre e ao desprezado a não ser a pobreza e o crime?".

Vamos considerar sob uma outra e mais importante luz: como uma linha de comunicação ligando as regiões marinhas e sublitorâneas com o extremo oeste, o norte com o sul, facilitando o comércio e a colonização, impedindo a escassez, fornecendo uma saída ao que sobra nas regiões centrais, especialmente quando as estações irregulares da costa prejudicam a agricultura ou quando o transporte por mar possa ser bloqueado. E assim estará completo o círculo estratégico de que o Império, se conseguir preservar sua integridade, precisa tanto agora. Afirmo de antemão que os rios do Brasil entre o Amazonas e Prata, como os da grande península africana, devem ser distribuídos entre duas categorias. Muitos são curtos e diretos, antes estuários que rios, drenando superficialmente as serras que acompanham a costa. Em menor número são os longos e indiretos como o São Francisco e os que acima especificamos. Os primeiros são de valor limitado; os últimos podem ser utilizados extensivamente.

O Brasil é sabidamente a terra de grandes rios, mas ainda não preparados. Ganharam, contudo, para si próprios um mau nome.(24) Nota do Autor A comunicação através da água tem sido deploravelmente desprezada tal como na Índia inglesa. Sendo possível obter capital para estradas de ferro na Inglaterra a juros altos, os vários meios de comunicação foram utilizados na ordem inversa do mérito. A comunicação pela água, de poder enorme e econômico, que deveria ter sido a primeira a ser empreendida, será a última. As estradas estão limitadas ao uso dos burros ou carro de boi. E o império está ameaçado com um plano ferroviário de uma maravilhosa inépcia. Na Europa, a Itália é o único país que elabora uma planificação antes de abrir o solo. Aqui a falta de uma comissão topográfica em largas bases ameaçou Pernambuco de chocar-se com a Estrada de Ferro baiana em Juazeiro e a Estrada de Ferro D. Pedro II de cortar a E. F. Mauá. Prepara-se uma campanha contra a E. F. Cantagalo e a E. F. Santos a Jundiaí. Reservar-me-ei para futuras considerações sobre o assunto.

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