Viagens aos planaltos do Brasil - Tomo III: O rio São Francisco

Sabará fica apenas a sessenta e quatro léguas diretas do Rio de Janeiro. Um ponto análogo no rio São Francisco ficaria a noventa léguas, diferença que se terá de levar em conta quando pensarmos numa estrada de ferro. Essa proximidade, combinada com a superioridade do clima, recomendaria o rio das Velhas aos colonos. Finalmente ele tem conexão com lugares mais importantes, como Diamantina e Curvelo.

O Sr. Liais também concluiu, creio que com razão, que a comunicação pela água é preferível à por terra. Também nesse ponto, como nas Índias Britânicas, as comunicações entre as vilas não foram levadas em conta no sistema das obras públicas. As "estradas naturais", as mais desprezíveis comunicações abertas pelos pés dos caminhantes, onde não se encontra um sulco aberto pelas carroças, acompanham tanto as margens do rio das Velhas como as do São Francisco. Tanto umas, quanto outras são más, mas geralmente uma é pior que a outra. Mesmo na época das secas, a canoa tem preferência e durante as chuvas as estradas estão inevitavelmente fechadas. Haveria grande dificuldade em construir, e maior ainda em manter uma estrada de rodagem. As despesas da construção entre Sabará a Juazeiro (244 léguas) não ficariam por menos e 12.200:000$00 (isto é £1.220.000). O pedágio muito alto afastaria todos os lucros. Uma objeção semelhante se aplicaria à construção de caminhos para o rebocamento de barcos à sirga.

O Sr. Liais divide os obstáculos no rio das Velhas em cinco variedades: molhes de pedra ou rochas isoladas; redemoinhos de eixo vertical; bancos de areia e curvas violentas e rasas; troncos flutuantes e troncos obstruindo o rio. Ainda que grande admirador de seus planos, não posso concordar com o sistema proposto "Pour assainir un rivière". Ele quer fazer deste rio selvagem um Sena ou um Ródano. Minha experiência, na Índia e nos Estados Unidos, me aconselha muito mais atenção à economia. O Sr. Liais é entusiasta de minas para a explosão de pedras brandas, da "supressão" de molhes de pedras e da sinalização de todos os rochedos, mesmo os baixos, onde possam ocorrer acidentes. Fala a sério de "un petit travail de canalisation". Contudo ele suprimiria canais; para impedir os encalhes (échouage) alteraria o leito do rio, mudaria sua direção, retificaria todas as curvas abruptas e canalizaria até os lugares rasos. Sem dúvida, a primeira enchente restauraria o status quo ante. Frequentemente também ele obstruiria a metade do leito do rio e canalizaria a outra metade, numa operação precária. Já aludi aos seus projetos de dragagem e construção de túneis, seja simples seja avec enrochements: a remoção das cachoeiras tornará estes custosos trabalhos inúteis pelo aumento da corrente pelo estreitamento do

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