A história dessa região distante não faz dois séculos sequer. Sabemos, através da divulgação que nos oferece um geógrafo, em 1817, quanto tempo ficou ela ignorada pela Europa. Referindo-se, então, a Mato Grosso como "um país completamente novo", diz que "a sua importância provém do fato de se achar situado aí o grande espinhaço, de onde se despejam muitos rios em todas as direções".
Nossa viagem tinha como ponto de partida a foz do La Plata, em Montevidéu, e como ponto final a do Amazonas, no Pará. Remontando o Paraguai, queríamos alcançar aquele "grande espinhaço" e depois, à direita deste, seguir para o Amazonas e, através do Amazonas, atingir o Oceano.
A tarefa propriamente dita era a exploração do rio Xingu.
Frequentemente se reflete: Como é possível que um rio que desemboca tão perto do Pará, numa largura de milha alemã, completamente limpa de qualquer ilha, formando uma massa de água cristalina, rica de peixes, cuja margem é, sem dúvida, das mais frutíferas do Pará — como é possível, repito, que um rio desses seja apenas conhecido numa pequena parte do seu curso? Lancemos um olhar à sua história.
As origens dele são idênticas às do Baixo Amazonas. Este, já em 1541 a 42, se tornou conhecido em virtude da célebre viagem realizada pelo espanhol Francisco de Orellana, que partiu de Quito. Mas, somente pelo fim do século XVI, foi que os portugueses se estabeleceram na costa norte do Brasil, fundando Santa Maria de Belém do Grão Pará que hoje se chama simplesmente Pará (em 1615).
Ao mesmo tempo que os descobridores do país, os holandeses se esforçavam em prolongar aqui as suas conquistas coloniais; penetraram por toda a parte, avançando vitoriosamente e governaram durante algum tempo para o bem do estado, ainda novo, até que, em 1654, em consequência de uma revolução popular, foram expulsos. No Baixo Amazonas haviam difundido as suas relações comerciais até o Tapajós, assim também o Xingu não ficou ignorado por eles, sendo que no ano de 1625, perto de sua embocadura, entre os pequenos rios Peri e Acaraí, fundaram eles uma fortificação, com o nome de Mariuaçu, que significa "cidade grande" e que perdura na memória dos seus habitantes. Nesse mesmo ano, entretanto, o forte foi conquistado e demolido pelo capitão Pedro Teixeira.
Foi justamente esse corajoso Teixeira que repetiu, em primeiro lugar, a viagem realizada por Orellana, mas em direção contrária, e, quase um século depois, em 1637, fez uma visita de retribuição a Quito.