O Brasil Central. Expedição em 1884 para a exploração do Rio Xingu

Devemos atribuir ao seu companheiro Christoval Acuña as seguintes observações sobre o Paranaíba ("rio claro"), conforme antigamente denominavam o Xingu: " ...pelo lado sul apareceu um esplêndido rio que é tão abundante de águas que vem pagar tributo ao rio principal com uma foz de duas léguas de largura. Os nativos denominam-no Paranaíba. Às suas margens existem, perto da embocadura do rio, algumas colônias de índios mansos, que se acham sob o domínio dos portugueses. Também moram no interior muitas outras tribos, insuficientemente conhecidas, cujo número nos dá ideia da extensão do rio".

Em um atlas Jansson, aparecido em 1666, em Amsterdã, que teria sido cuidadosamente desenhado, a partir de 1630, acha-se um afluente da direita do rio Amazonas — o Xingu. Correspondendo exatamente à realidade, o rio está desenhado com a parte superior inteiramente livre de ilhas, enquanto daí em diante ele se apresenta coalhado de inúmeras ilhotas e acaba com "storting van't water", isto é, cachoeiras. Mesmo após dois séculos, os conhecimentos não eram mais exatos em relação ao curso do rio Xingu, mas o pouco que se sabia parece, curiosamente, ter sido sempre a única base para se descrever em geral o afluente do rio Amazonas.

A descrição que faz Maurício de Heriarte (1662/67) contém as seguintes indicações: "Doze léguas para o lado ocidental de Corupá, o rio Paranaíba é abundante e, com o clima quente, é um tanto nocivo à região. É muito povoado pelos guaiapes, caraús, juruunas, cuanís e outras tribos. As suas margens fornecem inúmeras qualidades de madeiras: cutaras, pinimas, cedros, loureiros, piquis, piquiranas e muitas castanhas, que crescem sobre as montanhas e têm melhor sabor que as nozes e as amêndoas. O rio é verdadeiramente opulento em víveres de caça e pesca, que constituem a ocupação natural dos índios. Há enorme quantidade de grandes tartarugas. No interior veem-se várias serras que não são muito altas. A água é bastante límpida, mas pesada, ao passo que as águas do Amazonas, apesar de conterem muita lama, são saborosas e tidas como as melhores da região por transportarem o grande produto de suas margens — a salsaparrilha."

No célebre mapa do padre Samuel Fritz, que reproduz o que se sabia do "rio Maragnon" em 1700, o rio Xingu é denominado rio Aoripana e é um pouco mais longo que o "Topayos", atingindo 8º de latitude sul. À direita, mais ou menos a 1º da parte superior da embocadura, encontra-se uma aldeia que se chama Xingu. O nome atual provém dessa colônia de índios, bem como o da povoação ainda hoje existente, situada na foz do Paru, que fica em frente à do Xingu.

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