O Brasil Central. Expedição em 1884 para a exploração do Rio Xingu

um efeito sonoro absolutamente idêntico, o qual tem qualquer coisa de enfadonho e maçante (conforme se costuma dizer do dialeto hamburguês).

O acento tônico recai, na grande maioria das palavras, na última sílaba, o que acontece com os outros jês. Através dessa tendência, que parece existir, deve ter-se dado uma abreviatura da vogal final nas palavras em que a acentuação tônica cai na penúltima sílaba.

Assim também em algumas vogais iniciais deve ter-se dado o fenômeno de abreviação — v. "[Ver caracteres no original]", água, "nda", chuva, "woa-ndó", olho e as formas completas "inkó, intá, intó", de outros jês.

A comparação que se faz com tribos afins produz também aqui algumas formas singularmente regressivas de modificação fonética:

I — Na ligação consonantal kr medial, tão característica dos jês, falha frequentemente o r, em se tratando da língua suiá. V. 9, 19, 52.

Acontece fenômeno análogo entre os xavantes e os xicriabás. V. Xav. g "comunika", Xicr. - "comekané", arco, em Cher. - "comicran". Constitui analogia a falta do r entre as vogais do vocábulo "[Ver caracteres no original]" = pari. V. Vocab. Suiá, n.º 32.

Dessa maneira explica-se a raridade do r (não [Ver caractere no original]) no suiá.

II — Costumam trocar s e h, v. 3, 20, 42. O fato de st poder figurar no lugar de um b ou v de outros jês, veja-se 42, 59.

III — Ao [Ver caractere no original] medial dos suiás corresponde em casos comparáveis tt, t ou d nos jês restantes, V. 16, 36, 37.

Essa transição aparece isoladamente, também, na primeira linha das tribos jês, enquanto é completamente ignorada pelas da série Xavantes.

IV — Os suiás renunciaram ao antigo p, que só se encontra numa palavra estranha a eles, "paraná" do tupi. Na alegria de ouvirmos pronunciar um vocábulo conhecido para nós, deixamos de perceber o som de [Ver caractere no original] naquele vocábulo. No lugar de p encontramos o [Ver caractere no original] ou o h, dois sons que em suiá se parecem muito um com o outro. O que favorece essa modificação é, sem dúvida o botoque dos lábios, embora outras tribos que o usam tenham conservado o p. Convencemo-nos disto, após termos tentado experiências com os suiás de fazê-los articular vocábulos portugueses providos da letra p, e que demonstraram ser-lhes quase impossível pronunciar tal som. Eles dizem comumente [Ver caractere no original] ou h, sem se darem conta da diferença. V. 32, 18, 44, 66.

V — Assim como o p, o b também se perdeu, sendo substituído por m. V. 36, 37, 16.

GRAMÁTICA

Infelizmente não encontramos relações gramaticais. Encontramos o pronome possessivo da 1.ª pessoa wa ou woa, o pronome da 2.ª pessoa i em "[Ver caracteres no original]", calcanhar, e "ikié", coxa. Deve estar contido um pronome da 3.ª pessoa feminina no vocábulo "endikó", vulva.

"Ni" é um pronome demonstrativo. V. 109.

Compare-se com isso a partícula pronominal dos botocudos "ni". Constituem terminações verbais indubitáveis: [Ver caracteres no original].

O estudo comparativo no vocabulário que se segue relaciona-se (V. também Cap. 23 e a Tabela Tapuia) aos botocudos e aos seguintes:

Apin. — apinajés. Cai. — caiapós.

Apon. — aponejicrãs. Xav. — xavantes.

Acr. — acroá mirim Xer. — xerentes.

Car. — caraós Xicr. — xicriabás.



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