Descobrimentos do Rio das Amazonas

Alegraram-se, contudo, com isto e caminharam com diligência muito maior que a costumada; e como ao certo não se avistasse nenhum povoado nem naquele dia nem no seguinte, viu-se ser tudo imaginação, como de fato era. Tanto os enfermos como os sãos desmaiavam tão a miúdo que lhes parecia que já não podiam escapar. Mas o capitão os sustinha com as palavras que lhes dizia: que nosso Deus é pai de misericórdia e toda a consolação, que repara e socorre a quem o chama no tempo da maior necessidade. De fato, na noite de segunda feira, oito de janeiro, se ouviram mui claramente tambores, muito longe do lugar onde estávamos. Foi o capitão que os ouviu primeiro e o disse— aos companheiros e todos os escutaram e, certificados, tanta foi a alegria que todos sentiram, que lançaram ao esquecimento todo o trabalho passado, porque estávamos em terra povoada e já não podíamos morrer de fome.

Logo providenciou o capitão para que velássemos por quartos, com muita ordem, porque bem poderia ser que os índios nos tivessem sentido e viessem de noite a atacar o acampamento, como costumam fazer. Houve assim, durante aquela noite, grande vigília, não dormindo o capitão, parecendo que aquela noite sobrepujava às demais, tanto ansiavam pelo dia por já estarem fartos de raízes. Mal raiou a madrugada, mandou o capitão que se tivessem prontos os arcabuzes, bestas e a pólvora, e que todos se armassem, pois em verdade até aqui vinham os companheiros descuidados de fazer o que deviam. Providenciava o capitão por si e por todos; e assim, de manhã, tudo muito bem armado e posto em ordem, começamos a caminhar em demanda da povoação.

Ao cabo de duas léguas de caminho rio abaixo, vimos vir em sentido contrário quatro canoas cheias de índios a explorar a terra, e apenas nos viram, volveram

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