Descobrimentos do Rio das Amazonas

de uma ponta a outra, sendo muito difícil navegar por ele, pois fazia muitos redemoinhos e nos levava de uma a outra margem, mas com grande trabalho saímos deste perigo sem poder visitar a aldeia e passamos adiante, aonde tínhamos nova de outro povoado, que nos diziam estar a duzentas léguas dali, sendo todo o resto deserto.

E assim as caminhamos com muito trabalho de nossas pessoas, padecendo muitas necessidades e notabilíssimos perigos, entre os quais nos aconteceu um grande infortúnio e não pequena demora: duas canoas, onde iam onze espanhóis dos nossos, se perderam entre umas ilhas, sem saber onde estávamos nem os poder encontrar. Andaram dois dias perdidos e nós, pensando nunca os achar, estávamos cheios de tristeza; mas ao cabo desse tempo foi Nosso Senhor servido que topássemos com eles, e não foi pequena a alegria de todos, e tamanha, que parecia que havíamos esquecido todo o trabalho passado. Depois de descansarmos um dia nesse lugar mandou o capitão que caminhássemos.

No outro dia, às dez horas, chegamos a umas povoações, nas quais estavam os índios em casa, e para não alvoroçá-los, não quis o capitão que chegássemos até lá, mandando a um companheiro que fosse com outros vinte até onde estavam os índios e que não saltassem em suas casas nem subissem em terra, mas que com muito amor lhe dissessem a grande penúria em que íamos, e que nos dessem de comer e que viessem a falar ao capitão, que ficava no meio do rio, porque este lhes queria dar o que trazia e dizer a causa da sua vinda.

Os índios estiveram quietos e muito se alegraram em ver os nossos companheiros, dando-lhes muita comida de tartarugas e papagaios em abundância, respondendo-lhes que dissessem ao capitão que fosse pousar em uma aldeia que estava despovoada do outro lado do rio, e que no

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