Descobrimentos do Rio das Amazonas

de fazer; e logo o capitão mandou repartir por todos os companheiros que cada qual trouxesse uma quaderna e duas estamenas(9)Nota do Prefaciador, a outros que trouxessem a quilha e a outros as rodas, e a outros que serrassem as tábuas, de modo que todos tinham bem em que se ocupar, não sem pouco trabalho. Porque, como era inverno e a madeira estava muito longe, cada qual tomava o seu machado e ia ao monte e cortava o que lhe cabia e o carregava nas costas. Enquanto uns trabalhavam, outros ficavam de sentinela, para que os índios não lhes fizessem mal, e desse modo em sete dias se cortou todo o madeiramento para o bergantim. Terminada esta tarefa, logo foi dada outra: fazer carvão para mais cravos e outras coisas. Era uma maravilha ver com que alegria trabalhavam os nossos companheiros e carregavam o carvão, provendo-se assim tudo o mais que era necessário.

Não havia entre nós ninguém que estivesse acostumado a tais ofícios mas, apesar de todas estas dificuldades, Nosso Senhor dava a todos engenhos para o que se tinha de fazer, pois era para salvar as vidas. Se dali saíssemos com o barco e as canoas, dando, como depois demos, com gente guerreira, nem nos poderíamos defender nem sair do rio em salvamento. Assim pareceu claramente que Deus inspirou o capitão para que nesta aldeia se fizesse o bergantim, pois adiante seria impossível. Isto caiu muito a propósito, porque os índios nunca deixaram de nos trazer de comer em abundância, como lhes pedia o capitão.

Deu-se tanta pressa nesta obra do bergantim que em 35 dias foi lavrado e lançado à água, calafetado com algodão e betumado com piche, trazidos pelos índios, a pedido do capitão. Não foi pequena a alegria dos nossos

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