e suportar com paciência todos os trabalhos presentes, até sair com este novo descobrimento, além de ser isto o que tocava às suas vidas e honras. Assim nestes sermões disse o que me parecia, cumprindo com o meu ofício, e também porque me ia a vida no bom sucesso da nossa peregrinação. Também preguei no domingo de Quasímodo, e posso testemunhar com verdade que, tanto o capitão como todos os outros companheiros, tinham tanta clemência e espírito de santidade de devoção em Jesus Cristo e sua sagrada fé, que bem mostrou Nosso Senhor que era sua vontade o socorrer-nos. Pedia-me o capitão que eu pregasse e todos acompanhassem em suas devoções com muito fervor, como pessoas que tinham muita necessidade de pedir misericórdia a Deus.
Reformou-se também o barco pequeno, que já vinha podre, e assim tudo muito bem aparelhado e posto em ponto, ordenou o capitão que todos estivessem prontos e fizessem matalotagem, porque, com a ajuda de Deus Nosso Senhor, queria partir na segunda-feira seguinte.
Aconteceu-nos nesta aldeia uma coisa de não pouco espanto, e foi que quarta-feira de Trevas, quinta-feira de Endoenças e sexta-feira da Paixão nos fizeram os índios jejuar à força, porque não nos trouxeram comida ate ao sábado de Aleluia e, perguntando-lhes o capitão porque não nos tinham trazido de comer, responderam que não tinham podido tomar. Sábado e Domingo de Páscoa e domingo de Quasímodo foi tanta a comida que trouxeram, que jogávamos fora.
Para que tudo corresse como convinha e com toda ordem, foi feito alferes um fidalgo muito suficiente para o ofício, chamado Alonso de Robles, o qual, quando chegamos à terra de inimigos, mandava o capitão que ele saltasse com alguns companheiros a recolher comida para todos, ficando o capitão a guardar os bergantins, que