À margem da História do Brasil

O programa de governo era largo e fecundo. Como disse, estava pronto, suficientemente elaborado em seu cérebro. Parecendo distraído, entre o ministério e a regência, Feijó estava de fato alerta. Nove dias depois de regente, nomeia Barbacena embaixador em Londres com poderes amplos para tratar do tráfico, abolindo-o como era intento seu. Era uma cartada formidável e perigosa. Feijó pensava em extinguir o comércio negreiro, mas logo procurava facilitar a imigração do braço livre. Inimigo de José Bonifacio, tentava executar, no entanto, um programa, sujas ideias basilares haviam precipitado o ostracismo político do patriarca.

Vejo, em verdade, nesse pensamento governamental, a razão mesma da precariedade de um governo longo como regente. Era prematura, de fato, a dispensa do braço escravo. Duas décadas depois, Eusebio de Queiroz mostraria as dificuldades com que teria de lutar, embora protegido e apoiado pela diplomacia inglesa. Era errado, mas estava certo naquele tempo... A nossa civilização "vinha", de fato, da Costa d'África, como dizia Bernardo de Vasconcellos ... Grande demais, colonizado por portugueses tarados de preconceitos em relação ao trabalho manual, a nossa riqueza agrícola exigia em verdade o suor do negro, para regar a terra em que o indígena não se deixara escravizar a contento do colonizador lusitano.