A conquista do Brasil

à guisa de moradia. Os cereais, o gado, a roda e o arado — esses traços que tão de perto nos falam da cultura asiática — nenhum deles foi lá ter. A existência de primitivos caçadores, na Patagônia, permite-nos conjeturar a figura do primeiro homem atravessando o Golfo de Darien, a caminho da América do Sul trazendo sobre os seus ombros bronzeados apenas um saco de quinquilharias.

Antes do homem, porém, já existia a mandioca. E, foi de tal monta o papel que o destino reservou a essa raiz, na história do Brasil, que o dos reis e o dos conquistadores, o dos sacerdotes e o dos políticos, perante o dela empalidecem.

Em tupi, "mandi" quer dizer pão e "óca", a casa ; daí a palavra "mandioca". Essa planta, que nasce de uma haste fincada ao acaso em qualquer chão de clareira, sem preparo ou adubação, é uma espécie de irmã mais velha da batata e os seus colossais tubérculos, que atingem a 60 ou mais centímetros de comprimento, estão prontos para a colheita entre cinco e nove meses; mas, podem pacientemente esperar até um ano sem deteriorar, antes que se os desenterrem. Os pratos que com ela se preparam, tão variados nas suas formas quão numerosas as variedades da planta, constituem a força do cardápio selvícola. As qualidades não venenosas podem ser ingeridas ao natural, caso não haja cozinha; os porcos, o gado, principalmente o cavalar, apreciam-na tanto quanto ao milho. Coza-se, porém, a raiz, e ter-se-á um alimento que não difere em muito da batata-doce. Mergulhe-se n'água o tubérculo até que, macerado, ele possa ser facilmente partido, a mão, depois, torrem-se os fragmentos e ter-se-á a "farinha d'água" que condensa em si todas as propriedades do vegetal. Rale-se a polpa das de outras variedades, comprima-se-a para que perca o sumo venenoso, torrem-se os lindos flocos alvacentos que dessa operação

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