resultam e se terá produzido uma farinha da mesma consistência que a de trigo em bruto, e que, apesar de já ter perdido, de envolta com o caldo venenoso, uma parte do seu polvilho, terá adquirido em grau superlativo as duas qualidades primordiais que qualquer alimento possa ter, isto é, durabilidade e solidez para transporte. A farinha de mandioca dura pelo menos 15 ou 20 dias até mesmo no clima quente e úmido do baixio amazônico. Acondicionada, porém, em latas de querosene, de 20 litros, soldadas, os técnicos do nosso Departamento de Indústria Agrícola constataram poder durar diversos anos.(5) Nota do Autor Está sempre pronta para ser usada sem mais preparo.
A natureza jamais concedeu a qualquer de seus filhos prediletos, presente de maior utilidade. Segundo a lenda indígena, a mandioca nasceu das carnes de Atiolo, a moça Parecis, enterrada viva, para que o seu corpo alimentasse toda a tribo. Qual mão de fada benfazeja, a virgem feita vegetal acompanhou o homem através da sua infinita peregrinação pelo continente até que descobrisse, à borda da mata, as manadas de guanaco nativo, pastando nos pampas. E, quando tinha fome, ela, da sua abundância, fornecia-lhe alimentação. Mais para o norte, por todo o arquipélago das Antilhas tornou-se o principal gênero alimentício do selvícola e, depois da descoberta da América, atravessou o Atlântico para constituir o pão de cada dia das grandes populações negras da África.(6) Nota do Autor Aquela que em vida foi espezinhada e assassinada depois de morta tornou-se grande e valiosa: a maior das dádivas com que o continente sulino haveria de presentear o adventício que, ainda há pouco, vimos atravessar o Golfo de Darien.