A conquista do Brasil

Qualquer tentativa de relato da sua dispersão pelo continente, daí em diante, além de ser destituída de importância, redundará em mera conjetura. É de se supor que três fossem os caminhos mais fáceis que no Panamá se lhe deparassem: o primeiro, a orla marítima oriental. O segundo através dos vales e dos altiplanos andinos: caminho livre de florestas impenetráveis, de clima temperado e convidativo ao homem que trazia ainda em seu protoplasma memórias vivas das regiões setentrionais. Esse corredor continental que conduz às vastas pastagens da bacia Platina, tornou-se a estrada pela qual se difundiu a única civilização que floresceu na América do Sul: a dos incas, no Peru. O terceiro caminho encontrou-o, provavelmente, o imigrante asiático na mais formidável rede fluvial de que o mundo tem conhecimento: para cima de 60 mil quilômetros de rios navegáveis que, partindo dos Andes, regam todos os recantos da planície infindável que se estende da Venezuela e da Colômbia, ao Brasil, Paraguai, Uruguai e à Argentina. Se o homem logo de início lançou-se nesse império aquático, não temos elementos para dizê-lo. O que nos interessa, porém, é que o aborígene se dispersou por todos os recantos da América do Sul muito antes do Descobrimento, — época que escolhemos como ponto culminante, onde pudéssemos parar um momento para contemplar o panorama histórico, antes de descerrar o pano de boca que ainda pesa sobre o drama do Brasil moderno.

Se já não é fácil a tarefa de se retratar um povo, é ainda mais custosa a de se descrever a gente de outras eras. E, supomos nós, talvez seja tão difícil a um homem civilizado penetrar com simpatia na alma de um índio nu, quão será a um rico entrar no Reino de Deus. Muita cousa se poderia dizer do índio brasileiro que pintaria a realidade com a mesma imprecisão com

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