ovo da tartaruga como o mel de abelha constituem, além de gêneros alimentícios, meios de troca.
No dia de nossa visita, porém, ninguém se ocupa desses trabalhos corriqueiros porque à noite ecoará a música do Jurupari. Todos preparam-se para a dança que há de durar enquanto houver cauim. Por isso enchem-se até à borda os grandes potes decorados. Traz-se o vinho de bacaba, de patauá e de assaì. Traz-se a excelente bebida fermentada de cereais, de batata-doce, de inhame ou de mandioca! Pois, hoje à noite, o cauim há de correr como água e os filhos das selvas sentir-se-ão felizes. Mas, ... que cheiro sórdido é esse? Que é que estão torrando naquele forno? Qual sórdido qual nada, estrangeiro de outras terras! ... são as carnes de um herói enterrado apenas há um mês no chão batido sobre que se vai hoje dançar. Esses fragmentos carbonizados que serão reduzidos a pó para depois serem adicionados ao vinho — da mesma forma que se mistura açúcar ao clarete tinto — encerram todas as virtudes do amigo que já se foi.
A noite caiu já e as toiletes estão prontas. Dos "furos" de canoas afluíram os convidados de longe. 400 pessoas acham-se reunidas sob o teto da maloca. Uma reunião assim, com tanta beleza e tão rara ornamentação, nem talvez um salão de baile da antiga Babilônia pudesse congregar. Cerca de 20 homens dançam no espaço aberto, cada um tocando com a mão no ombro do fronteiro: belos rapazes bronzeados, alguns dos quais com quase um metro e 80 de altura. Na cabeça uma coroa de penas vermelhas e amarelas; colorações essas obtidas na plumagem do papagaio, ainda em vida, por meio da inoculação do leite de certa espécie de sapo. No cabelo, pentes donde caem plumas de garça real: as egrets da moderna chapelaria feminina. Alguns trazem, também, as penas inferiores da cauda da águia. Cordões de pelo de macaco, caindo pelas