A conquista do Brasil

Jurupari antes da surra sagrada que acompanha o cerimonial da puberdade.

Quando à memória nos ocorrem essas cenas e as loucuras que praticam depois de excitados pelo vinho, pelo ritmo da dança e pelos terríveis estimulantes que ingerem, sentimos vontade de reler as páginas animadas da literatura indígena; ou melhor, de retornarmos ao Amazonas antes que tudo isso tenha irremissivelmente mergulhado no esquecimento. Pois, quem ainda hoje penetrar no sertão amazonense poderá assistir a cerimoniais estranhos, mas, talvez não esteja longe o dia em que tudo isso passe a existir apenas na tradição selvagem.

Nas linhas acima, tentamos apenas dar ideia de um povo que, tendo adquirido em alto grau os conhecimentos necessários para conseguir abundantes reservas alimentícias e relativo conforto no descanso e, ainda mais, para produzir objetos artísticos e proceder à sua adaptação ao meio que o cercava, soube também tirar da vida um pouco de prazer — de maneira selvagem é verdade, que de outra não seria capaz — desses elementos que também para o mundo civilizado constituem motivo de deleite: o vinho, a música e o belo sexo.

Deixemo-lo porém, pois que o Brasil é grande e lá longe, no Rio Grande, no extremo sul do país, uma família existe, que, em sua rude tenda de couro, merece também um pouco de reparo. Aí está o lar do caçador primitivo da mesma forma que, na maloca, vemos o berço do agricultor ancestral. A geada e a neve são conhecidas íntimas dessa gente e por isso o índio pampeiro usa abrigos grosseiros de onde descende diretamente o poncho de nossos dias; não obstante o clima, porém, quando em guerra, o seu trajo não é maior que o de seu irmão equatorial. Toda a sua cultura gira em torno das manadas de guanaco e dos bandos de ema (o avestruz

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