A conquista do Brasil

da exploração de pedreiras, aquém dos Andes. Toda a comunicação do índio se processava a pé ou ao impulso dos remos e o trilho que deixava na mata representava o máximo da sua capacidade construtora de estradas. Não havia selvícola em canto algum do continente que tivesse ideia da chaminé apesar de que todos fumavam o seu cigarro na bacia amazônica e cachimbo no resto do país. Parece impossível que a um homem, que fumasse pito o dia inteiro, a vida inteira, não ocorresse a invenção da chaminé! Com respeito à indumentária, a moda corria pelo figurino do Paraíso. Não apascentavam rebanhos e o único animal doméstico que conheciam era o cão, de origem asiática. Nem os narcóticos, nem as bebidas tóxicas encerravam mistério para o selvagem brasileiro, que, como os nossos antepassados das florestas nórdicas, poderiam ser classificados de bons beberrões. Não sendo de agricultores as hordas que vagueavam pelo árido planalto central, desconheceu-se no Brasil pré-colonial a arte da irrigação, tão altamente desenvolvida entre os Incas. E, pensar-se na importância que isso teria, justamente agora que no Ceará se constroem reservatórios enormes contra o flagelo das secas.

Um traço fundamental, porém, existe que liga todos os povos ameríndios, quer tenham sido eles agrícolas ou caçadores quer se tenham chamado Incas ou Tupis — traço esse que constantes perturbações têm acarretado nas fronteiras: a concepção comunista da propriedade. Havia a propriedade pessoal sobre as armas, sobre os animais ou sobre os ornamentos e, às vezes, até mesmo sobre as safras, mas a posse particular da terra era inteiramente desconhecida. Isso nunca deve ser esquecido por aqueles que têm de se haver com ocupantes intrusos de terras mal vigiadas. Muitas das tribos do Amazonas viviam em habitações coletivas do tipo que atrás descrevemos; mas, nem todas, pois a

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