Cartas do Imperador Pedro II ao Barão de Cotegipe

se atiravam reciprocamente conservadores e liberais, não tinham procedência. Todos eles atacaram o poder pessoal, quando fora do governo. Todos eles, ainda que a discrição e o sigilo das posições deixasse germinar a suspeita de cúmplices ou submissos ao trono, resistiram ao Imperador, quando ministros. Havia, decerto, transigências e contradições, mas não só dos políticos como do próprio Imperador, contemporizações que eram avanços e recuos da pugna, na qual, é de ver, sempre levou a melhor a Coroa, a cuja vontade aqui ou ali modificada ou limitada, coube afinal orientar a administração, decidir com arbítrio da vez de cada partido, influir decisivamente na formação e queda dos gabinetes, traçar as linhas mestras da política externa, agitar e encaminhar as realizações sociais na política interna. "É a opinião da Coroa que sempre prevalece neste país", dizia o Visconde de Ouro Preto na sessão de 30 de julho de 1875 do Centro Liberal.

Há exemplos nas cartas que se seguem e nas notas que as acompanham da oposição dos ministros e das limitações levantadas aos desígnios imperiais. Em mais de um episódio da guerra do Paraguai, da questão religiosa e da abolição — essas três questões reservadas à Coroa, segundo a frase de Joaquim Nabuco — os gabinetes agiram contra a opinião do Imperador ou a despeito dela. Nem todos os ministros iam aos extremos de José de Alencar, que roçava o seu zelo ministerial pela desatenção pessoal, mas quase todos opinavam com desassombrada franqueza e sabiam vencer, ainda que nem sempre convencer, o Imperador.

Além destes aspectos e particularidades do exercício do poder pessoal e da sobranceria ou energia dos

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