ao Brasil, logo se via cuidadosamente cercado de soldados e vigiado! Em nome de meus compatriotas e de todos os viajantes europeus, desejo que esse solene testemunho exprima o reconhecimento de que me sinto possuído para com o monarca que tomou essas medidas liberais. Que inexprimível satisfação para o viajante longe de sua terra encontrar acolhida tão benévola e receber tratamento tão amistoso! Resulta também daí uma incalculável vantagem, de que participa todo o mundo civilizado e culto.
Quem quer que deseje percorrer utilmente o interior desse vasto território deve destinar a isso vários anos e dirigir os seus planos de acordo com tal determinação. Por exemplo, para alcançar Goiás e Cuiabá, dois anos não são bastantes; que tempo, então, não será preciso para atravessar o Brasil até às fronteiras do Paraguai, até o rio Uruguai, ou até os confins mais longínquos de Mato Grosso, onde uma pirâmide de mármore, talhada em Lisboa, marca os limites do reino na foz do Jauru! O território de Minas Gerais já foi percorrido pelos Srs. Mawe e Eschwege; e se bem que o assunto não haja sido esgotado, é pelo menos em grande parte conhecido. Por conseguinte, à minha chegada ao Brasil, achei melhor orientar as minhas excursões para a costa oriental do país, que ainda eram inteiramente desconhecidas ou que, até então, não tinham sido absolutamente descritas. Varias tribos dos primitivos habitantes dessas regiões ainda aí vivem em estado selvagem, sem terem sido perturbadas pelos europeus, que gradualmente se vão espalhando em todas as direções. A alta cadeia de montanhas, desprovida de vegetação, do Brasil central, das províncias de Minas Gerais, Goiás e Pernambuco, é separada da costa oriental por uma larga cintura de florestas virgens, que se estendem desde o Rio de Janeiro até às proximidades da baía de Todos os Santos, isto é, por uma extensão de 11 graus de latitude, ou sejam 198 léguas portuguesas (165 milhas geográficas), ainda não ocupadas por colonos portugueses. Até agora, só um pequeno número de caminhos, acompanhando os rios que atravessam, foram abertos com grande dificuldade. Nessas florestas é que os primitivos habitantes do país, importunados de todos os lados, continuam a encontrar um seguro abrigo, e é aí que ainda se podem observar esses povos em seu estado original. Como não haveria essa região de atrair de preferência um viajante que não pretende passar muitos anos nessa porção da zona tórrida?
Essas tribos indígenas, que habitam tais desertos, são desconhecidas na Europa, com exceção talvez de Portugal. Os jesuítas, entre outros Vasconcellos(*) Nota do Autor, em suas Noticias curiosas do Brasil, dividiram todas as tribus selvagens, tanto as que viviam ao longo da costa marítima como as que habitavam essas antigas florestas, em duas classes, a saber: os do litoral, que, um tanto civilizados pelos portugueses, principalmente pelos jesuítas, eram chamados \"índios mansos\", e os das florestas e desertos do interior, que, ainda bárbaros e