Viagem ao Brasil nos anos de 1815 a 1817

em parte desconhecidos, eram chamados tapuias; estes últimos, tendo se mantido até agora em estado de cultura primitiva, merecem ser mais bem conhecidos. Os jesuítas e vários antigos viajantes, na verdade, nos deram algumas notícias dessas regiões cobertas de florestas ininterruptas, porém muito imperfeitas e misturadas de incidentes fabulosos; não fornecem, também, pormenor algum referente à história natural. Por isso, pouca coisa sabíamos, ou mesmo nada, sobre os primitivos habitantes dessa região, que vivem ainda em estado nativo, assim como sobre as suas produções naturais, animadas e inanimadas. E, no entanto, quantas coisas novas e interessantes nessas regiões, mormente para o botânico e o entomologista! Quando se deseja percorrê-las, é preciso de antemão resignar-se a gente a suportar uma infinidade de aborrecimentos e obstáculos, tais como a falta de víveres para si e o pessoal que o acompanha, e pastagens para os animais de carga; dificuldades para transportar os objetos de história natural; chuvas de longa duração, umidade, e uma infinidade de outros contratempos. Porém a mais penosa privação é a falta de mapas das regiões que se percorrem; o de Arrowsmith está cheio de erros: faltam-lhe rios importantes da costa oriental, e, pelo contrário, assinala-os em pontos onde não existem; desse modo, o melhor mapa do Brasil, até então conhecido, é quase que inútil para os viajantes. Para remediar essa falta, o governo acaba de ordenar que se faça um levantamento exato do litoral, a fim de se indicarem com precisão os perigos que ameaçam os navegantes. Essa útil tarefa já foi iniciada e habeis oficiais de marinha, Srs. José da Trindade, ca- pitão-tenente, e Antonio Silveira de Araujo, levantaram as costas desde Mucuri, São Mateus, Viçosa e Caravelas até Porto Seguro e Santa Cruz.

Tenho também que agradecer ao governo português ter ele, com seu modo de pensar esclarecido e liberal, permitido que eu apresentasse a meus compatriotas essa relação de minha viagem no longo da costa oriental, desde o 23° até o 13° grau de latitude sul. Dois alemães, os Srs. Freyreiss e Sellow(4) Nota do Tradutor, que projetavam passar vários anos percorrendo o Brasil, encontraram um generoso apoio em Sua Majestade Rei de Portugal e do Brasil. Dificilmente um estrangeiro poderia penetrar no país com maiores vantagens do que esses dois viajantes, pois eles conhecem a sua língua e os seus costumes, e as