como havíamos feito com as outras. Alcançamos em pouco um lugar em que o rio deslisa suavemente, sem muita correnteza. Na margem norte há um rochedo alto e saliente, sob o qual existe uma espécie de caverna; esse lugar é conhecido por "Lapa dos Mineiros". Tal caverna, como transparece do nome, é a bem dizer, apenas um recesso coberto, formado pela projeção da rocha, onde os viajantes costumam passar a noite, quando o descambar do dia os surpreende nesse trecho, dado que o fogo fica aí perfeitamente protegido do vento e da chuva. Mais além, o rio se aperta entre as montanhas marginais, jazendo nas beiras grandes blocos de pedra. Paramos junto a um pequeno riacho "córrego"; meus "canoeiros" saltaram em terra, procurando segundo disseram, pedras de amolar as pedras encontradas nesse ribeiro representavam diversas variedades de rochas primitivas existentes em Minas, misturadas a muita mica; meu pessoal, de que fazia parte um "mineiro" experimentado, afirmava que, não raro, também o ouro era aí encontrado, e que o aparecimento da pedra indicava com certeza a existência do metal. No áspero álveo dessa corrente agreste, que desce através de brenhas deshabitadas, descobrimos os sinais das "antas" (Tapirus) e das "capivaras"(346)Nota do Tradutor, pacíficos habitantes dessas solidões, a quem o "córrego" garante água clara, mesmo na estação chuvosa, e as matas circunjacentes o melhor refúgio.
Passamos por outras pequenas quedas ou "cachoeiras", que nos deram muito trabalho em safar a canoa, visto a pouca profundidade da água. A tardinha nos surpreendeu em um trecho apertado do rio acampamos num plano arenoso da margem, entre rochas. Duas onças vermelhas ("onça suçuarana", Felis concolor, Linn.) tinham recentemente rondado pelo local; os rastos ainda estavam bem frescos e emanávamo-nos em examiná-los, quando a nossa atenção foi atraída por um bando de "lontras", que, enquanto pescavam, deixavam-se arrastar rio abaixo. Erguiam frequentemente as cabeças acima dágua, assoprando alto; mas, infelizmente, achavan-se além do alcance do nosso fogo. Essas lontras (Lutra brasiliensis) pegam no rio grande quantidade de peixe, cujos restos são largados nas pedras; assim, por exemplo, nelas encontrei, muitas vezes, a cabeça e os opérculos de uma espécie de Silurus*Nota do Autor mostrando, num fundo castanho-amarelado, manchas pretas redondas: as lontras parecem desprezar essas partes duras. Diversos animais apareceram perto do nosso acampamento. As "araras" gritavam na floresta e grandes morcegos esvoaçaram sobre nossas cabeças, no lusco-fusco. Quando as sombras da noite envolveram completamente a cena, ouvimos os pios singulares e estranhos das corujas e dos curiangos. A manhã seguinte também