Viagem ao Brasil nos anos de 1815 a 1817

surgiu submersa em densa neblina, que, entretanto, não era fria, mas apenas úmida. O poderoso sol tropical logo porém, rasgou o veu espesso que cobria o vale, secando-nos de novo.

Dirigimo-nos, então, para a maior "cachoeira" que tínhamos de transpôr nessa viagem: aí era necessário descarregar a canoa numa ilha rochosa, e todos ajudaram a alçá-la para cinta da rocha, de três pés de altura, operação grandemente dificultada pela água que estava embaixo. A bagagem inteira foi levada por terra à outra extremidade da ilha; mas gastou-se muito tempo e canseiras sem conta para transportar a canoa até lá, tirar-lhe a água, tornar a carregá-la e pô-la flutuando.

Enquanto minha gente se ocupava com a canoa, olhei casualmente para a margem oposta e, com grande espanto, vi um corpulento e robusto botocudo, sentado com sossego, de pernas cruzadas. Chamava-se Jucakemet e era bem conhecido do meu pessoal, que, entretanto, não o percebera; tinha ficado a ver-nos trabalhar sem fazer a menor bulha. Mal se lhe distinguia o vulto bruno-acinzentado entre as rochas cinzentas; essa a razão por que esses selvagens se podem aproximar facilmente sem serem percebidos e por que os soldados, em outras paragens, quando em guerra com eles, precisam de extrema cautela. Pedimos-lhe que viesse a nado ao nosso encontro; mas ele nos deu a entender que a corrente estava demasiado rápida e que voltaria ao Quartel do Salto, não muito longe daí, onde nos esperaria. Também vimos, na margem norte, alguns botocudos, que iam à caça com um dos soldados do "quartel" recusaram-se igualmente a vir até nós. Passamos por um alto penhasco enegrecido, atravessado de veios de quartzo amarelo, e em pouco chegamos ao desembarcadouro ("porto") do Quartel do Salto.

Perto desse posto militar, uma grande cascata torna o rio de todo inavegável, sendo necessário saltar nesse ponto e prosseguir em terra por sobre uma montanha; acima do "quartel", embarca-se novamente em outras canoas. Minha bagagem foi descarregada e transportada para o "destacamento". O caminho galga uma ribanceira íngreme, onde se construiu um alpendre para os produtos vindos de Minas, aí desembarcados. Em cima, entra-se em um mato alto, onde as Bromelia atapetam o solo, formando um balsedo impenetrável; uma Begonia, de grandes folhas,com cinco a seis pés de altura, medra em abundância*Nota do Autor. Ergue-se aí a Bombax ventricosa de Arruda, cujo tronco, de colossal circunferência, é mais fino perto da terra e abaixo da copa, porém inchado no meio, motivo por que os portugueses lhe deram o nome de "barriguda".(347)Nota do Tradutor Há diversas variedades dessa Bombax bojuda;