Viagem ao Brasil nos anos de 1815 a 1817

Para cima, as margens do rio apresentam cenários muito pitorescos; destaca-se, entre estes, um trecho da margem sul chamado Oiteiro (morro); aí se vêm "fazendas" aprazivelmente situadas em graciosas eminências, à sombra de coqueiros. Já próximo o verão, numerosas e belas árvores e arbustos estavam em flor: a Visnea, de folhas sedosas e brilhantes, ruivo-pardacentas na face inferior; Rhexias de grandes flores violetas; a espécie de Melastoma com folhas de um lindo branco-prateado na face inferior; Bignonias, com os esplêndidos ramos floridos trepando e entrelaçando-se nos arbustos, acima dos quais se erguia "genipapeiro" (Genipa americana), de grandes flores brancas. O tom verde-escuro natural das flores do Brasil estava então atenuado pelos tenros renovos verde-amarelados ou vermelhos; e sob todas as moitas havia uma sombra mais densa, muito amena nos grandes estios, que os mosquitos, porém, tornavam bem menos aprazível ao transeunte, uma bela flor, uma Amaryllis branca de estames purpúreos, debruava as margens do rio.

A superfície do rio tomara agora um tom pardacento, resultante das correntes vindas das florestas, dos pântanos e das montanhas, e formava uma perfeita câmara-escura onde as margens verdejantes e floridas se refletiam maravilhosamente. Viam-se na tona ilhas de Pontederia, nas quais observamos a bonita "jassanã" (Parra Jacana, Linn.), cuja voz alta, semelhante a uma risada, ouvimos a grande distância. Cheguei a um lugar em que se construía uma lancha; os trabalhadores nos disseram que as matas do Jucurucu não contêm muita madeira para construção naval; encontram-se, de certo, grandes árvores, próprias para fazer canoas, mas, para isso, também se podem empregar variedades menos duras de madeira. Vi, na margem, pequenas bacias d'água, cheias de capim, de canas e juncos, cercadas de caniços para apresar o peixe dentro delas. A cerca é aberta quando a maré sobe, afim de que o peixe entre; fecha-se depois, e o peixe é apanhado na maré-baixa. A viagem foi-me muito agradável à tardinha: o silêncio reinante nos ermos imensos que me envolviam, depois que as cigarras e os "grilos" deixaram de cantar, era apenas interrompido pelo coaxar forte e estranho das rãs*Nota do Autor, pelo assobio melancólico da "mãe-da-lua"(360)Nota do Tradutor (Caprimulgus grandis, Linn.), e os altos pios das corujas nas florestas escuras. Já era assás tarde da noite quando alcancei o "destacamento" de Vimieiro, onde estão situadas a residência e as plantações do Senhor Balançueira, "juiz" da Vila do Prado, num alto espigão que acompanha a margem do rio. O dono da casa estava ausente, mas tive, por sua ordem, amigável acolhida e bom pouso para a noite, o som da música e da dança vinha das casas dos índios, que aí formavam dez famílias.