Viagem ao Brasil nos anos de 1815 a 1817

A 28 de dezembro cheguei de novo a Belmonte, e continuei os preparativos para minha futura viagem ao norte, ao longo do litoral. Durante a estada de três meses e meio no Belmonte, nossa coleção de história natural recebeu o acréscimo de muitos exemplares notáveis, obtidos em parte nas matas rio acima, em parte perto da vila, numa grande \"lagoa\" que chamam de Braço e que, embora de não muita largura, se estende por várias léguas. Aí vive grande número de aves aquáticas, sobretudos patos, mergulhões, gaivotas, garças, maçaricos, cegonhas \"tuiuiú\" aí chamada \"jabirú\", etc. Jamais faltou aos caçadores caça fresca, ao passo que o povo da vila estava em precisão: na \"lagoa\" há também abundância de peixe, motivo por que geralmente se encontram os habitantes da região ocupados em pescar. A lagoa é envolvida de todos os lados por um vasto campo de quatro léguas de extensão, onde se cria grande quantidade de gado. Dizem que, a princípio, aí havia alguns milhares de cabeças, mas que o número está muito reduzido. uma grande onça \"yaguarété\", que então vagueava pela vizinhança, andava assolando os rebanhos: em geral, limitava-se a chupar o sangue da presa, sem lhe tocar na carne: isso constituía sério perigo para o caçador; a população não tinha cães apropriados para descobrir o refúgio do voraz animal, e, por isso, era obrigada a quedar-se inativa, enquanto uma ou duas cabeças de gado morriam todas as noites.

[link=6566]Ilustração: O Príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied[link]
[link=6567]Ilustração: Guack - índio Botocudo[link]