Diretrizes de Rui Barbosa

O Brasil não pode continuar com esse regime, que era o da Cisplatina dos Oribes, Lavallejas e Riveras. A defesa nacional precisa ter um conselho diretor e permanente, em que não possam intervir os ministros das pastas militares senão a título de colaboração, seja qual for o partido triunfante, seja qual for o presidente da República ou o chefe do Estado, seja qual for o regime. República, Ditadura ou Monarquia, o Brasil precisa saber que a sua segurança interna tem uma guarda ativa, perene e vigilante, acima de todos os interesses de ocasião.

Não precisamos ir muito longe, se quisermos ver exércitos completamente aliados da política e exemplarmente organizados. O Uruguai lutava, para chegar à admirável organização de que hoje desfruta, com a mais pesada das heranças. A luta secular dos blancos e colorados dividia o país por um rio de sangue. O uruguaio é um dos homens mais suscetíveis e inflamáveis do mundo. Ainda não se libertou de todo do passado recente, onde uma geração de primários não conhecia para as divergências políticas ou pessoais senão a solução da violência. Como é que os netos de Flores e Leandro Gomes conseguiram olvidar todos os ressentimentos para criar um exército modelo, surdo às seduções da política e absorvido totalmente na missão profissional? Muito simplesmente: amando o Uruguai acima de todas as coisas e compreendendo que, dada a situação geográfica da sua pátria e a fatalidade dos fenômenos históricos, o Uruguai não pode servir de fatia de pão de ló para os desejos da primeira mulher grávida de rancores seculares.

Diretrizes de Rui Barbosa - Página 47 - Thumb Visualização
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