A inteligência do Brasil: ensaios sobre Machado de Assis, Joaquim Nabuco, Euclides da Cunha e Rui Barbosa

Aos 30 anos, ao tempo da primeira publicação na imprensa dos ensaios agora reeditados, ousei fazer-lhe algumas restrições. Festejava-se-lhe o jubileu cívico e todo mundo o endeusava. Já então me impressionava a falta de um grande pensamento filosófico, capaz de iluminar-lhe a obra, certa indiferença pelas ideias gerais e o alheamento das questões de ordem social, que começavam a abalar a velha civilização individualista do século passado. Confusamente embora, desconfiava eu que a moldura do seu exclusivo liberalismo político era um pouco estreita para conter os desesperos dos que sofrem as criminosas desigualdades da vida e anseiam pelo advento de tempos melhores. Quando conseguia fugir à admiração pelo seu estilo, cheio de sonoridades musicais, perguntava a mim mesmo se Rui não seria apenas formidável retórico ou um grande talento sem gênio, servido por incomparável memória e perfeita erudição. Afinal, que ficaria de sua vasta obra? Em que enriqueceria ela o nosso patrimônio cultural? Não estaria destinada a fragmentar-se em páginas mortas de antologias?

Renovamos incessantemente nossa visão das cousas e nosso julgamento sobre os homens. De mim, confesso que ainda não consegui precisar a impressão final que me deixa Rui Barbosa. Mantenho, acrescidas de novas, as restrições que esboçava há 16 anos sobre a sua ação de escritor e, principalmente, de homem público. Talvez, apesar dos meus esforços em contrário, ele não me tivesse inspirado jamais esta simpatia instintiva, que nos inclina à benevolência e tanto facilita a compreensão

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