Machado de Assis apareceu em pleno domínio do romantismo entre nós, quando, na Europa, a escola já entrara em decadência. É um curioso momento da nossa história literária, momento de entusiasmos juvenis, de idolatrias hugoanas e bironianas, de nacionalismo ingênuo e sentimentalismo religioso. Decerto, ninguém pode afirmar que Machado de Assis se inscreveu entre os discípulos fiéis do romantismo, como mais tarde não se incluiu entre os realistas e naturalistas. Conservou toda a vida certa independência literária, o que não implica, no entanto, indiscutível sinal de superioridade. Mais uma questão de temperamento. Os mais altos e claros espíritos podem filiar-se intransigentemente a determinado credo estético ou filosófico. Havia em Machado de Assis grande fundo de descrença e ceticismo, ao lado de muita timidez e do gosto inato da medida e do meio termo. Não tinha alma de prosélito; custar-lhe-ia decidir em consciência onde estava o critério da verdade, para adotá-lo com a veemência das convicções profundas. Depois que a verdade fosse esta ou aquela, valeria a pena pregá-la aos homens vãos e descuidados?
Ressentem-se da influência do romantismo os primeiros livros, como, do realismo, os últimos, porque eram esses os tons da moda, o gosto universal, e, mau grado a sua independência intelectual, não poderia ficar completamente estranho