A inteligência do Brasil: ensaios sobre Machado de Assis, Joaquim Nabuco, Euclides da Cunha e Rui Barbosa

trate de assuntos remotos no espaço e no tempo..."

Surge, entre nós, o realismo, ou, melhor, o naturalismo de Zola. Doutrina nova, nova estética. Não lhe faltam discípulos de talento ou de simples boa vontade. Torna-se moda. Mal se compreenderia um livro que não seguisse os rígidos processos de Médan: aspecto estreito das cousas, preocupação de minúcias, vulgaridade de caracteres, diálogos e descrições perfeitas, toques de determinismo fatalista, fotografias exatas da vida, como a escola se propunha realizar. Machado de Assis não podia ficar alheio às novas influências; os seus livros mudam de tom, pelo menos, de fatura externa. É visível a diferença de processos, entre, por exemplo, Helena e Brás Cubas. Mas esta diferença é mais de superfície do que de fundo; o seu temperamento conserva-se o mesmo, sem violências ou transições bruscas. Em ambas as fases de sua carreira literária, encontramos o psicólogo, o dissecador impenitente de almas, com o culto interior da verdade, um pouco incerto e esquerdo nos primeiros livros, mestre consumado nos últimos. Aqui, além, conserva-se o que há de característico em seu gênio: o bom senso, o claro gosto, a agudeza, a justa medida, e ainda o pessimismo e o cepticismo, mais acentuados nas obras da idade madura, quando atinge a perfeição.

Quem nunca foi um romântico, pode ser bem um

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