A inteligência do Brasil: ensaios sobre Machado de Assis, Joaquim Nabuco, Euclides da Cunha e Rui Barbosa

realista, e ao cabo, nem de todo um romântico nem de todo um realista, no sentido técnico das palavras. Se quisermos emoldurá-lo numa escola, devemos colocá-lo, de preferência, entre os clássicos franceses, mais perto dos séculos XVII e XVIII do que nas escolas efêmeras do seu tempo. Pertencerá à grande família de Montaigne, La Bruyère e Voltaire, quase sem parentesco com a gente de René ou de Madame Bovary.

Parece-me que outro fator concorreu para esta espécie de liberdade literária de Machado de Assis: conhecimento direto da literatura inglesa. Os nossos homens de letras formam o espírito através da literatura francesa. O que lhes chega de outras literaturas é muito pouco, e quase sempre por intermédio da França. Seguem sem discutir o gosto, as modas e as paixões de Paris. Ora, uma das características da literatura francesa consiste justamente na precisa divisão das escolas. O gênio francês — velho truísmo — é um gênio de ordem e de método: cataloga, nomeia, divide e subdivide tudo, até a própria produção intelectual. Tem sempre da clareza e rigidez geométricas de Descartes. Aparecem os primeiros românticos, como sinais de reação contra a velha literatura clássica, e em nome da Natureza, da vida, da liberdade da inteligência e da imaginação — creia-se a escola, com suas regras, seus cânones, suas Elviras, seus Renés, sua riqueza verbal e seu sentimentalismo.

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