Cansa-se, esgota-se o gênero nas mãos dos últimos discípulos? Aparecem os realistas, e funda-se outro cenáculo com seus preceitos e processos. Na literatura inglesa, creio, não será possível tão rígida especificação: em política, como nas letras, as revoluções na Inglaterra serão mais lentas e menos radicais do que em França. Há, certo, mais profundo respeito pelo passado, que impede as transformações violentas, e há, sobretudo, o velho fundo individualista da raça, que dá aos homens, sem embargo do culto pela tradição, maior independência moral, maior liberdade íntima e maior confiança neles próprios.
Houve em Machado de Assis influência muito sensível da literatura, ou, pelo menos, de alguns escritores ingleses. Em Swift, Thackeray, Sterne e Dickens, deparam-se-lhe correspondências de aproximação simpática. Leu-os com íntimo prazer, haurindo o gosto da forma livre, o humor, os toques de amargura e desespero, que corrigiam a influência francesa e do próprio meio nacional, e que, principalmente, lhe falavam aos sentimentos e às tendências inatas. O seu fundo de ironia encontrava no humor a forma exata. O humour, Taine o definiu, é uma espécie de ironia grave e amarga. Não se confunde o humorista com o simples ironista ou com o satírico, como estes últimos não se identificam entre si. No ironista, pode existir muito otimismo, muita simpatia