Através da Bahia – excertos da obra Reise in Brasilien

Em geral, durante os eclipses da lua não se observam modificações notáveis.

Dizem que a maré, em 1754 ou 1755, subiu doze pés além do que era de costume (talvez por ocasião do terremoto de Lisboa).

Receamos um semelhante abalo da natureza, quando, no dia 7 de novembro, à tarde, na ocasião do embarque, acabávamos de transportar as nossas coleções para a canoa, que nos devia conduzir ao Engenho da Ponta.

Repentinamente, o céu se cobriu de negras nuvens de trovoada, que pareciam pairar por sobre o rio e que despejaram, não por pouco tempo, como estávamos habituados a observar, mas por espaço de seis horas, um dilúvio de fogo e torrentes d'água. A canoa aberta encheu-se d'água até o meio, e vimos com profundo desgosto que, ainda no porto, ameaçavam naufragar os resultados dos nossos esforços.

Quando na Bahia, alguns dias mais tarde, abrimos os caixões, certificamo-nos de que aquelas poucas horas funestas haviam destruído parte das nossas coleções, mormente dos herbários.

Uma vez que essa terrível tempestade nos impediu de partirmos, pela madrugada, do Porto de São Félix, julgamo-nos recompensados com a viagem que fizemos pela manhã, gozando o espetáculo das lindas margens do Paraguaçu, que se estendiam diante de nós, iluminadas pela mais brilhante luz do sol.

Nada mais encantador podia aparecer ao viajante, acostumado à solidão do sertão, do que essas verdes colinas, em grande parte cuidadosamente cultivadas, em cima e na encosta das quais alternam, em fileiras multicores: capelas, fazendas extensas, chácaras bem tratadas, cabanas de operários e de vigias, senzalas de