Cotegipe e seu tempo. 1ª fase: 1815-1867

e partidos, como se trouxesse nas pupilas algum telescópio que aproximasse no tempo. Enquanto ao seu redor as esperanças a tantos iludiam estimulando, ele estava vendo, observando antecipadamente as paixões a gelarem as suas chamas em arrependimentos e reconciliações vexatórias e as ideias a desmentirem, nas realizações, as certezas messiânicas dos propagandistas obstinados.

Animava-o, entretanto, uma grande fé em afirmar, melhorar, criar.

Seria um descrente retraído ou hostil se não compensasse essa tendência ao negativismo e à "insularidade" pelo centrifugismo pessoal que dele irradiando, o fazia sociável, irônico, alegre, tolerante.

Ainda aquela mesma visão genial, dando-lhe um excepcional poder de síntese persuasiva dispensavam-no de canseiras de estudo e fadigas de meditação.

A erudição — um arsenal de análises — ele substituía pela intuição clarividente e leve — o melhor viático para um político. Eximia-se de carregar ou exibir frutos de alheia observação quando se sentia amatalotado das próprias. E por isso, embora ilustrado, muitos o tomaram como vazio de leitura.

Tinha e mantinha a cultura comum aos estadistas de seu tempo e se as ideias filosóficas, as concepções abstratas, não encontravam lugar em seu espírito, jamais por insuficiência ou falta de saber debilitou-se-lhe a expressão do pensamento, a energia da palavra, o poder do convencimento, o acerto das resoluções, a eficiência da ação.

Levantava-se sobre o que aprendera como os edifícios sobre os alicerces invisíveis.

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