Cabia-lhe ao justo responder aos que lhe reprochassem aquela imaginária falha o que Tácito escreveu de Aper: "desprezava mais as letras do que as ignorava".
Como orador abstinha-se dos discursos preparados; desdenhava esse "vazio cheio de palavras" das orações de aparato ou de aparência.
Quando sobe à tribuna não diz senão o que tem a comunicar. Mas apenas pensa no que proferirá; e frequentemente nem isso — entregando-se por inteiro à improvisação. No comum apanha algumas notas, leva para a tribuna dois ou três argumentos, meia dúzia de fatos, raros exemplos, raríssimas citações e deixa o discurso surgir, viver, desenvolver-se — cambiante, movimentado, desigual — ora displicente, ora alegre e mordaz, ora cerrado e rijo — naquela "lógica poderosa com que costumava fulminar seus adversários" —; aqui florindo em frases áticas, além incorreto e descuidado. Mas sempre eloquente.
À espontaneidade de opinião ou de discussão havia de corresponder uma instantaneidade de expressão, que sendo nativa, trazia em si tanto cintilações, brilhos e purezas como escuridades, gangas e defeitos.
Transbordando a convicção com a força das forças naturais, a torrente verbal era nele incanalisável
A sua estética oral — majestade, ímpeto, harmonia, dialética, simplicidade, ironia e graça — era a dos rios que buscam por si, naturalmente, leitos por que deságuem. Represas; ribas plantadas de jardins, deixava ele aos que compõem os discursos limados, trabalhados, estudados, nos quais o veio da