Cotegipe e seu tempo. 1ª fase: 1815-1867

os Zacarias; e há os que são malvadamente ferinos como os Lafayette. Cotegipe combatia sorrindo. A ironia — em outros agravante da brutalidade dos debates, era nele maneira de fugir à sua direta aspereza. Preferia com a graça e o sarcasmo, em caso extremo com o ridículo e a mofa, imobilizar, desarmar o antagonista sem lhe derramar sangue, por meio de pequeninos golpes dirigidos com precisão aos pontos vulneráveis. Sendo assim mais gracioso e generoso, não decompunha a linha pessoal nos diálogos amargos.

Com os repentes azados que faziam sorrir; com o brocado a propósito; em fingir-se ingênuo e ignorante para fazer ressaltar a ingenuidade ou ignorância alheia; usando a facécia e a farsa que levavam o veneno escondido; traçando a caricatura num lance rapidíssimo de fusain — chamava a hilaridade dos que o ouviam para ajudá-lo a abater um argumento ou afastar vencido um contraditor.

Nem sempre ao lermos seus discursos temos a impressão de todas essas qualidades oratórias. Guardam eles as pegadas do espírito, — mas não o espírito. Há neles muita cousa do subjetivismo pessoal, fugazes claridades, reflexos da aura que irradiava do olhar e do gesto, que cintilava na modulação propositada ou na pausa intencional; — mas o que ficou disso é pouco ou quase nada. Entretanto isso era quase tudo.

Nada restou de certos meneios de pronunciação, de certas cadências que tantas vezes transfiguram não só uma palavra, um vocábulo, uma frase, um período, mas uma oração inteira. Pouco restou da emoção,

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