do calor, da graça mímica que não podem ser registrados nas letras frias de um apanhado taquigráfico.
Quantas vezes deparamos nos anais os seus discursos pontilhados de "hilaridade", "riso", "sensação", "aplauso" — notações da crônica parlamentar que os interrompem em pontos nos quais mal percebemos hoje o porque desses parênteses?
Era o magnetismo verbal que acendia essas centelhas, era isso que jamais a estenografia e a imprensa poderiam guardar e que apenas ao cinema sonoro é dado agora pretender fixar.
Quantas vezes a eloquência residiu no intervalo de um silêncio? Quem encontrará esse silêncio que falava, nas reticências do discurso impresso, nestas notações que sugerem tão somente ao leitor uma parada gélida?... Entretanto o orador havia enchido aquela pausa de várias expressões mudas, mais intimativas que a palavra — o olhar, cujo brilho a intenção dourou; o franzir dos lábios, que a malícia contraiu; o compor do gesto, que sublinhou a intenção; um inclinar expressivo da cabeça; um clarão da fisionomia — tudo isso que os próprios que ouviram o discurso não poderiam repetir um momento depois?!...
Em Cotegipe a dose de improvisação instantânea estava muito acima do normal. Gerada simultaneamente a essência e a forma de suas orações no clima da tribuna, a falta da declamação pessoal mutila imensamente a sua oratória, que se apresenta com um grande déficit ao leitor de hoje — igual ao que notava Victor Hugo ao ler Mirabeau: — "Voilà bien le mot, mais ou est le geste? Voilà la parole, ou est le regard? Voilà le discours, ou est la comedie de ce discours? Car, il faut le dire, dans tout orateur, il y a deux choses, un penseur et un comedien. Le penseur reste, le comedien