Gente sem raça

A volúpia com que Manoel Bomfim profliga a atitude do Brasil, na conjura de que o acusa, contra nosso ótimo vizinho de hoje, dá u'a mostra do desembaraço com que se permitem historiadores nossos ventilar questões que, quando tivessem o caráter que lhes atribuem, deveriam ser dissimuladas, pelo menos, em respeito ao decoro nacional.

"Toda essa história, lôbrega, coxeante, desinteressante" — diz ele, referindo-se à política do Império, nas preliminares da Guerra — "só é lembrada porque nos dá o espelho mesmo da estúpida derreada e sinistra política imperial do Prata. As antigas colônias de Castela traziam a trágica herança das facções caudilhescas, e o Brasil explorando, ignominiosamente, essa triste condição, foi uma terrível agravante nas lutas internas do Prata, sobretudo, no Uruguai, por intermédio dos Colorados. Já vimos que era dos Blancos a maioria da opinião nacional; mas, unidos os seus adversários com o Governo Imperial, não podia haver paz interna. Por si mesma, a Nação Uruguaia elegia um representante do partido guerreado pelo Brasil, e não tardava que Flores, assistido, já agora, por Argentinos e Brasileiros (governo), viesse dar com o presidente eleito por terra. Foi assim até 1863 quando o Governo Imperial entendeu abater definitivamente os Blancos. O momento pareceu propício pois que dominavam agora, na Argentina, os mitristas, antigos aliados do governo de São Cristóvão, na guerra contra Rosas. Governava Montevidéu, Aguirre, blanco, que sucedera normalmente a Gabriel Pereira, e era tido como adversário, não só pelo Governo Imperial, como pelos mitristas, que haviam combatido contra os Blancos de Oribe. Sem gente e sem dinheiro, lá estava em Buenos Aires Venâncio Flores, tão desprevenido para o caso, quando o atiraram a perturbar

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