Distante quarenta minutos de Belo Horizonte, dorme a vetusta e legendária Sabará. O bom povo desta cidade tem duas religiões: a católica e a música. Lá, mesmo em meio da semana, às caniculares horas do dia, não há uma rua por mais modesta que seja, onde não se ouça um violino, instrumento que prepondera, uma flauta, um piano, um violão. Jamais hei de me esquecer de uma vez em que, vagando pelos becos esconsos, em ruínas, desta romântica cidade, tive de me deter para ouvir uma mocinha que, a sós, de pé, num bosque nemoroso de jabuticabeiras, mais ou menos ao meio dia, numa hora em que o sol crestante havia embriagado tudo, desfiava uma endecha, uma modinha tão sentimental, que a natureza em torno, com o sossego e a paz reinantes, dir-se-ia, quedou-se, também, para escutá-la. Vali-me de uma fresta em um muro de adobes, e pude lobrigá-la gesticulando, naturalissimamente, como a artista mais completa num momento de arroubo. Não sei explicar, mas o fato é que tive uma saudade estranha de Marilia de Dirceu...
E de mim para comigo, concluí: até hoje e para sempre, em matéria de arte, o Amor será o supremo mestre. Aquela menina talvez não