Impressões da Comissão Rondon

vestindo-nos pelo tato, procurando, às apalpadelas, o sabão, arranhando-nos nos espinhos, pensando nas cobras, escorregando aqui e batendo acolá com as canelas... o banho é simplesmente trágico! E não há tempo para reflexões e é preciso atividade, porque não tarda a corneta a anunciar:

O ALMOCINHO

De sua longa experiência em trabalhos de sertões, por zonas muitas vezes insalubres, Rondon deduziu a necessidade de distribuir ao pessoal, pela manhã, uma refeição mais sólida. A falta de pão no acampamento, como consequência da dificuldade dos transportes; a impossibilidade de adotar o sistema usado por outros povos, que se alimentam de frios pela manhã ou de aveia e leite, etc., porque tais recursos eram de dispendiosa aquisição, além de incidirem no mesmo problema dos transportes; impuseram-lhe, como solução mais prática, a instituição do célebre almocinho.

Era a primeira refeição do dia e consistia no café simples, (Rondon e os oficiais positivistas substituíam o café pelo mate) tomado em doses de copo e acompanhado de uma farofa de carne (paçoca) triturada; esta vinha aos pratos fundos... O estômago, ao começo, tenta reagir contra o hábito, novo de todo para quem vai das cidades; posteriormente, quando alguns dias de trabalho intenso, ao sol ardente, lhe fornecem pela primeira vez as sensações do vazio estonteante que essas sete horas nunca produziram na vida comum, ele se adapta perfeitamente... E todavia o trabalho era o mesmo quando a peste dizimava o gado de corte e o palmito substituía a carne em todas as refeições.

A paçoca, além da característica ideal de depender do "alimento que anda", representa ainda, no alto sertão, ao lado da rapadura, o importante papel de matula (matalotagem)

Impressões da Comissão Rondon - Página 67 - Thumb Visualização
Formato
Texto