do que a trova popular, dos peixeiros de Lisboa, corrente naquela época:
— "do rei
chamado João,
que faz o que lhe mandam
e come o que lhe dão —"
A impressão deixada pelo monarca, desde a invasão de Portugal pelos franceses, até a sua vinda para o Brasil, no conceito de outro dos nossos escritores, Leão Velloso Netto, era a de "um príncipe beiçudo, de roupagem sebenta e ventre crescido, inchado das pernas, pusilânime de ânimo, bronco de espírito, as vestes sombreadas de rapé, os lábios untados de marmelada e os bolsos pejados de guloseimas". A história do seu reinado, no dizer do mesmo escritor, quase cabia entre o parêntesis de duas fugas: a primeira, de Lisboa para cá, ao ruído da aproximação dos franceses, e a segunda, daqui para lá, por uma noite sombria, escapando aos motins do Rio de Janeiro, e sua morte, afinal não teria sido senão a consequência de uma forte indigestão. "No cenário português" — escreve, por sua vez, Oliveira Martins — "levantara-se a figura do Príncipe Regente com o seu olhar vago, na imóvel contemplação da régia ociosidade, bocejando constantemente, a assistir, de mãos nos bolsos, indiferente e passivo, ao desabar ruidoso do carcomido edifício da nação, e a bordo, à hora de sua