O Fico: Minas e os mineiros na Independência

partida para o Brasil, em frente a Lisboa já entregue às tropas de Junot, ele bocejava ainda. Alberto Sonsa, em seu recente trabalho sobre a Independência, descrevendo os sucessos do Rio de Janeiro no movimento constitucionalista de 1820, traça com estas palavras o perfil moral do monarca: — "Terminada a solenidade do juramento, exigiu o povo a presença de Dom João VI no Paço da cidade, a fim de manifestar-lhe o seu regozijo. Veio S. A. trazido ou espontaneamente; mas tamanho terror o sacudia naquele momento, que esteve a pique de desmaiar. Foi com o rosto desfigurado, coberto de uma palidez quase lívida, com o corpo agitado por tremores pusilânimes, com os dentes a entrechocarem-se, impedindo-lhe a emissão da voz, que ele chegou até ao Paço. Naquele instante supremo e trágico acudiu-lhe, decerto, à memória a lembrança de Luis XVI, cuja desventurada sorte era um dos temas prediletos de suas tristes conversações na intimidade. A guilhotina mostrara aos povos libertadores que a cabeça de um rei poderoso é exatamente igual á do mais humilde dos seus vassalos; e Dom João VI, meio desfalecido nas almofadas do seu coche, que os populares em tropel arrastavam aos solavancos pelas ruas da capital em tumulto, ao passar por entre os vitoriosos batalhões em forma, ao contemplar os canhões postados ameaçadoramente a cada entrada no Rócio, ao ouvir a todo momento o rufo estrepitoso dos tambores e os sons estrídulos das cornetas militares — evocou talvez em sua perturbada imaginação a carreta lúgubre e fatídica que,

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