Botânica e agricultura no Brasil no século XVI

vicissitudes e contratempos sobrevindos a este, raramente consegue conhecer aquela melhor e praticar esta mais sabiamente do que ele o fazia naquela era.

Dirão que os aborígenes, no entanto, não tinham comércio nem indústria capazes de demonstrar a sua produtividade agrícola e industrial, que eram gente indolente, sem estímulo e sem ambição. Isso é fato. Os naturais eram verdadeiros despreocupados, mas, no entanto, possuíam sempre o quanto necessário para as suas necessidades. Isto evidencia-se das palavras do próprio selvícola a quem Jean de Lery, a viva força pretendeu demonstrar a vantagem que havia no comércio e na exploração dos produtos naturais das selvas e da lavoura: "Bem vejo" - replicou - "que vós mairs (franceses) sois uns loucos: atravessais o mar com imenso risco e grande incômodo, e labutais tanto, com o único objetivo: juntar riquezas para deixá-las para os filhos ou parentes! Para que tanta preocupação? A terra que vos alimentou não será capaz de nutrir também os filhos e parentes?... Nós também temos filhos e parentes e os amamos tanto como vós, mas, como temos certeza que depois de falecermos, a terra, que nos forneceu o essencial para a vida, os alimentará também, ficamos perfeitamente descansados, sem a menor preocupação."

Esta resposta, além de nos mostrar a índole desinteressada e a total despreocupação dessa nobre gente, revela-nos que ela compreendia melhor e praticava mais os ensinos de Christo, do que os conquistadores. "Porque andais solícitos pelo que haveis de comer ou com que vos haveis de vestir" - doutrinou este - "olhai os passarinhos e contemplais as flores. Não plantam nem segam, não fiam e nem tecem, no entanto Deus cuida deles".

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